"O ato de ouvir exige humildade de quem ouve e a humildade consiste nisso: saber com a cabeça, mas sentir pelo coração que é possível que o outro veja mundos que nós não vemos." (Ruben Alves)Realmente foi com muita satisfação que transmitimos a presidência da ABMES - Associação Brasileira de Mantenedores de Ensino Superior ao amigo José Janguiê Bezerra Diniz e, mais ainda, marcar a posse com a entrega do “Bastão da Fala”, um símbolo de poder associativo para se tornar perene pela vida afora. O fizemos sabendo que, por certo, ele e sua diretoria saberão preservar a história da entidade, fundada em 1982 por mantenedores, capitaneados, nestes anos todos, por Candido Mendes, Edson Franco e por nós. E sem nos esquecermos dos associados inspiradores como Electro Bonini, Vera Gissoni e inúmeros outros, que ajudaram a construir uma entidade com o prestígio que hoje tem na educação brasileira. As palavras iniciais do diretor presidente Janguiê em seu discurso são alvissareiras: a expansão, o fortalecimento e a atração de mais associados para participarem e estarem presentes nas constantes discussões que temos com o MEC e outros organismos públicos. Há muito obstáculo a ser vencido para que a sociedade, cada vez, mais valorize o trabalho das instituições de ensino particular. Uma atenção especial da nova gestão é continuar a dar foco às Pequenas e Médias Instituições de Ensino Superior (PMIES), que são a maior parte das IES do Brasil e dos associados da ABMES. Janguiê enfatizou que continuará com a proposta de “trabalhar para que essas IES sejam tratadas e avaliadas [pelos órgãos reguladores] de acordo com a sua regionalidade e especificidade”. Sua mensagem mais objetiva é a defesa intransigente da livre iniciativa em todas as esferas, inclusive na Justiça. Em resumo, comungamos com o entusiasmo do diretor presidente eleito e com a opinião que sangue jovem, ideias novas e metas ambiciosas são imensamente úteis para a continuidade do sucesso da ABMES. Na transmissão da “troca de bastão”, desejamos não só inovar, como também criar a cultura da democracia da audição onde todos tenham a oportunidade de falar, mas, antes de tudo, ouvir bastante. Para que em todas as ocasiões e momentos a palavra seja livre e franca, mas que os ensinamentos do escutar com atenção sejam norma básica e que as tomadas de decisões sejam precedidas pela oportunidade de manifestação de todos. É preciso, na condução das reuniões da ABMES, disciplinar as falas e a abordagem dos temas, evitando desvios comuns como a fuga do assunto central ou até mesmo questões particulares. O “Bastão da Fala[1]” organiza todas estas questões baseado num costume tribal dos índios americanos que hoje é método pedagógico em algumas escolas do mundo. É usado há séculos como um meio saneador do intercâmbio de ideias e discussões e comumente esteve presente em reuniões de conselho das comunidades para designar quem tinha o direito de falar. Quando assuntos de grande importância surgiam, o chefe da tribo pegava o bastão e iniciava a discussão. Quando ele terminava o que tinha a dizer, passava o bastão para outro que desejasse falar. Dessa maneira, o bastão era passado de indivíduo para outro, até que todos se manifestassem e o cacique decidisse expressando o pensamento do grupo. O bastão é uma peça de madeira entalhada com enfeites de simbologia representativas da natureza e de grande valor imaginativo. “O Bastão da Fala” nos ensina que o ponto de vista alheio é muito valioso, e que devemos escutar para colocar em prática tudo aquilo que ouvimos. Estamos sendo solicitados a não interromper aqueles que estão compartilhando sua sabedoria conosco. Devemos aprender que a vida nos oferece inúmeras escolhas e respostas para qualquer dilema que nos seja colocado. Fácil de se entender como a educação das crianças nesses ambientes era transmitida sem a necessidade de uma hora ou lugar determinado, mas sim no dia a dia, nos afazeres, na observação dos mais velhos, saber ouvir e saber falar na hora certa é um detalhe tão simples, e ao mesmo tempo virtude enormemente útil e apreciada. O “Bastão da Fala” mostra uma forma de se comunicar e resolver conflitos através da sabedoria do coração. É um bastão que traz na simbologia o equilíbrio e a harmonia ambiental, pois nele estão contidos todos os reinos da natureza: o mineral (através da pedra), o vegetal (através da madeira), o animal (através da pena) e o humano (através da pessoa que o segura). O propósito de usar o bastão nas reuniões é o de se trazer o equilíbrio e a harmonia necessários paras as tomadas de decisões, para que estas sejam em favor e consoantes com o meio ambiente. Para que o bem tenha prioridade sobre os desejos pessoais, para que alcancemos a consciência de que fazemos parte do todo e que cada decisão que tomamos repercute em todas as nossas relações, sejam elas familiares, com os amigos, no trabalho ou com o mundo natural. Os índios entendem que nos relacionamos com todos os seres vivos, sejam eles humanos, vegetais, animais ou minerais, pois fazemos parte do universo e todos eles possuem alguma forma de vida, considerando também as relações com o plano espiritual, o que nos faz zelar para manutenção da vida, da harmonia e do equilíbrio de todas as nossas relações. O bastão da fala também carrega toda a memória de todos aqueles que falaram através dele. Por experiência de vida, sabemos que o gênero humano é o ente mais complicado que habita este planeta e que cada um tem a sua ideologia, religião, time de futebol... A tarefa mais difícil que os dirigentes associativos têm é saber que lidam com iguais e não com subordinados. E, apesar na maioria das vezes todos tenham os mesmos objetivos, as estratégias e os meios de execução são diversos e as divergências nascem daí. O diretor presidente Janguiê, pela sua mocidade, pelo seu foco no trabalho, pelo seu empreendedorismo, tenacidade e objetividade, com sua diretoria entusiasmada, certamente alcançará os propósitos estabelecidos em seu Plano de Ação. E, para isto, pode contar conosco, sem se esquecer dos princípios do “Bastão da Fala”. [1] Artigo “O Bastão da Fala (utilizado nas reuniões dos grupos de apoio da AADA)”, Carol Locust. http://www.aada.org.br/page_saibamais.php?tipo=artigo&id=4 As “Cartas do Caminho Sagrado. A descoberta do ser através dos ensinamentos dos índios norte-americanos”, Jamie Sams (Ed. Rocco, 1993) http://arteshamanica.blogspot.com.br/2008/06/bastao-que-fala.html